lc-04
1 E JESUS, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto;
2 E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
3 E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.
4 E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.
5 E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
6 E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
7 Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
8 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.
9 Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10 Porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem,
11 E que te sustenham nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.
12 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus.
13 E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.
14 Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor.
15 E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.
16 E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
17 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:
18 O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração,
19 A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do SENHOR.
20 E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
21 Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.
Tomando lugar junto dos habitantes de Nazaré, exclamou Jesus, após ler algumas promessas de Isaias: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.”
Os agrupamentos religiosos são procurados, quase sempre, por investigadores curiosos que, à primeira vista, parecem vagabundos itinerantes;
todavia, é forçoso reconhecer que há sempre ascendentes espirituais compelindo-lhes o espírito ao exame e à consulta; eles próprios não saberiam definir essa convocação sutil e silenciosa que os obriga a ouvir, por vezes, grandes preleções, longas palestras, exposições e elucidações que, aparentemente, não os interessam.
Em várias circunstâncias, afirmam tolerar o assunto, em vista do código de gentileza e do respeito mútuo; entretanto, não é assim. Existe algo mais forte, além das boas maneiras que os compelem a ouvir.
É que soou o momento da revelação espiritual para eles.
Muitos continuam indiferentes, irônicos, recalcitrantes, mas a responsabilidade do conhecimento já lhes pesa nos ombros e, se pudessem sentir a verdade com mais clareza, albergariam a carinhosa admoestação do Mestre no
íntimo da alma: “Hoje se cumpre esta Escritura em vossos ouvidos.”
A misericórdia foi dispensada. Deu Jesus alguma coisa de sua bondade infinita. Cumpriu-se a divina palavra. Se os interessados não se beneficiarem com ela, pior para eles.
Emmanuel - Caminho, Verdade e Vida, Cap. 141
22 E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José?
23 E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.
24 E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
25 Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome;
26 E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva.
27 E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio.
28 E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira.
29 E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem.
30 Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se.
31 E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados.
32 E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade.
33 E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um demônio imundo, e exclamou em alta voz,
34 Dizendo: Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus.
35 E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal.
36 E veio espanto sobre todos, e falavam uns com os outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem?
37 E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca.
38 Ora, levantando-se Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão; e a sogra de Simão estava enferma com muita febre, e rogaram-lhe por ela.
39 E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os.
40 E, ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e, pondo as mãos sobre cada um deles, os curava.
41 E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo.
42 E, sendo já dia, saiu, e foi para um lugar deserto; e a multidão o procurava, e chegou junto dele; e o detinham, para que não se ausentasse deles.
43 Ele, porém, lhes disse: Também é necessário que eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado.
44 E pregava nas sinagogas da Galiléia.
Interpretação de Carlos Torres Pastorino, Sabedoria do Evangelho
1 - 13 -> Todos os três epítetos referem-se à PERSONALIDADE: é o quaternário inferior que, pela encarnação, estabelece a separação, a divisão, a desunião entre as criaturas, e que se opõe à espiritualização;
é o adversário e antagonista da evolução, que tenta o homem para que volte sempre à matéria.
O Espírito (Cristo) é um só em todos (“um só Espírito há”, Ef. 4:4), porque o Foco Incriado (Deus) é um só (“há um só Deus e Pai de todos”, Ef. 4:6). Quando as Centelhas se afastam do Foco, se esfriam ou congelam (por estarem distantes vibratoriamente do calor) e se cristalizam na matéria densa opaca (que é “trevas” por distanciamento vibratório do Foco de Luz). Então, as Centelhas ficam separadas umas das outras pelo corpo denso de que se revestiram, seja ele mineral, vegetal ou animal; não obstante, mesmo sendo a personalidade “o antagonista, o adversário”, continua sendo “Lúcifer”, ou seja, o “portador da luz”, porque tem dentro de si a Luz Divina. Divididas e separadas em corpos diferentes, estabelece-se toda a sequência de contrastes, egoísmos, vaidades, ciúmes, ódios, etc.
O trabalho evolutivo consiste na reunificação de todos em UM; em outros termos, no AMOR total entre todos, sem distinções e qualquer espécie. O que se opõe a esse AMOR-UNIÃO e a personalidade, que é o “antagonista” (satanás) , o “adversário” (diabo) , o “tentador”, que atrai o espírito para a separação, querendo sobrepujar os demais .
A personalidade é que, separada como está, distingue o “eu” do “tu”, opondo o “eu” a “todo o resto.
”
Quando conseguirmos reunir, ou melhor, reunificar tudo NUM só Cristo (“para que sejam UM comigo, assim como sou UM contigo, Pai”, João, 17:22) teremos alcançado a meta da evolução. E então a personalidade ( opositor, diabo, satanás, tentador) e sua consequência inevitável, a morte, estarão dominadas e vencidos: “a morte foi aniquilada pela vitória (cfr. Isaías, 25:8). Onde está ó morte a tua vitória? (cfr. Oséas, 13:14). Onde está ó morte o teu aguilhão (teu estimulante)? O aguilhão da morte é a queda (o erro, a involução na matéria), e a força da queda é a lei (da evolução)”, lemos em Paulo (I Cor.15:54-55).
Após ter a individualidade (Jesus) realizado o Sublime Encontro ou Mergulho no Fogo, Cristo Interior, é ela levada para consolidar essa união no “deserto”, onde permanece em oração e meditação.
Realmente, só no isolamento podemos conseguir uma fixação e vibrações em faixas tão delicadas de frequência tão elevada. Qualquer distração faria fugir a sintonia. E o burburinho ocasionaria distração. Por isso, quando o Momento Sublime se apresenta, o Discípulo é levado pelo Espírito (individualidade) ao isolamento, onde viverá em oração e meditação. Isso ocorria muito entre eremitas e cenobitas em tempos idos. Hoje ainda é frequente no Oriente. (Índia e Tibet) embora menos comum no Ocidente, onde existe, porém, nos conventos das Trapas.
O “deserto” exprime um lugar “sem habitantes”. O planeta Terra é de fato um local em que não são vistos os “espíritos”. Nesse sentido, é um deserto de espiritualidade, embora seja densamente habitado por criaturas físicas. Qualquer espírito elevado, que saia de seu “hábitat” natural no mundo dos espíritos e venha à Terra, penetra realmente num deserto e, como diz Marcos, “vive entre as feras”, embora “os anjos o sirvam”, ou seja, os “espíritos” bons jamais o deixem abandonado.
O número quarenta tem um significado especial: exprime o arcano do plano físico, sublinhando seu caráter material. Representa a esfera da concretização das formas nervosas, isto é, a materialização (encarnação) do astral e do etérico. “Quarenta” significa também a “luta do espírito com o mundo exterior”, ou seja, a realização da Mônada ou Centelha divina do lado de fora de si mesma. O discípulo, no Caminho, sabe, porém, que todos os estados materiais (o deserto) são efêmeros e cessarão um dia. E apesar de só haver dificuldades, sabe que essas dificuldades são momentâneas e não impedir ão a ascensão que buscamos (cfr. Serge Marcotoune, “La Science Secrete des Initiés”, pág. 203 ss., éd. André Delpeuch, Paris, 1928).
Então, os quarenta dias no deserto, entre feras (mas servido pelos anjos) é a vida da Centelha divina no planeta Terra, entre criaturas involuídas.
E sua passagem pela Terra tem justamente a finalidade de “ser tentada”, ou melhor, ser “experimentada ” através do “espírito” a que deu nascimento. Assim como em nossas escolas ninguém é promovido de ano sem prestar exames, assim na vida espiritual ninguém ascende de plano sem passar pelos “exames” das provações. E é exatamente por isso que se torna imprescindível a encarnação no plano físico. Com efeito, se a encarnação pudesse ser dispensável, acreditamos que muitos “espíritos” não viriam ao planeta, e evoluiriam diretamente no mundo espiritual (doutrina aceita por Swedenborg): uma vez abandonada a matéria, nunca mais a ela voltariam. A teoria pode ser sedutora, mas não corresponde aos FATOS comprovados. Ora, contra fatos não há argumentação filosófica que se sustente. E os fatos, cientificamente experimentados e comprovados, demonstram que o “espírito” vem à Terra a cada novo passo que tenha que conquistar. Como não podemos admitir que a Sabedoria da Vida obrigue a passos inúteis, concluímos que a única via de acesso a novos planos seja através da materialização temporária na Terra, com esquecimento do passado, para que, como nova criatura (nova personalidade), possa assumir a responsabilidade de seus atos, merecendo assim integralmente a melhoria a que fez jus (ou a consequência dolorosa de seus erros).
Uma vez na matéria, o Espírito (individualidade) está preso ao “tentador”, que pode chamar-se “diabo ” ou “satanás”, mas é simplesmente a PERSONALIDADE, o quaternário inferior. E por mais consciente que esteja o Espírito (individualidade), as “tentações” (experimentações ou provas) são inevitáveis, porque são inerentes à própria personalidade, são a condição “sine qua non” da encarnação ou “crucificação” na matéria. O Espírito, com seu mergulho no quaternário, assume novo “eu”, um “eu” externo e pequeno, que é porém o “eu” que se manifesta consciente de si e que, por isso, assume a liderança da consciência. Esse “eu” menor (ou “espírito”) abafa o Espírito (individualidade) e o Eu Profundo, e passa a agir como se fora o único chefe, comandando o processo evolutivo: o “eu” menor quer agir por si e dirigir tudo, não tomando conhecimento de que exista outro “EU” superior a ele: é, por isso, o verdadeiro adversário ou antagonista do Espírito (individualidade) e do EU REAL, que se vê escondido e sediado no coração (embora em outra dimensão), forcejando por agir - o que nem sempre consegue. Dessa luta titânica entre o “eu” pequeno ou personalidade (o “espírito”) e o Espírito, ou individualidade, vai resultar o progresso. Se o “eu” pequeno vence, o Espírito derrotado terá que voltar mais tarde à matéria, com outro “eu” pequeno diferente, para ver se consegue conquistar a palma da vitória. E um dia obterá inevitavelmente o triunfo, embora demore séculos ou milênios nessa árdua batalha interna, tão bem descrita no Bhagavad-Gita.
Quando o “eu” pequeno se anula pela humildade, dando ansas à individualidade de dirigi-lo, a vitória do Espírito se afirma, e ele prossegue para o plano superior seguinte.
Dessa luta (tentação) dá-nos conta o relato evangélico.
Depois de “mergulhar” na água (de renascer através do mergulho no líquido amniótico) o Espírito é
levado ao “deserto (aos embates da Terra) para ficar em contato com as “feras” (homens atrasados, pequenos “eus” ferozes e egoístas), permanecendo “quarenta” dias e quarenta noites (permanecendo na matéria) em jejum absoluto (em isolamento total do EU REAL). É aí que o Espírito encontra o antagonista personalizado (satanás, nosso próprio “eu” menor) que quer arrastá-lo a seus caprichos.
Surgem então as três “tentações” principais, as mais difíceis de vencer por qualquer pessoa (o arcano 3 representa a “obra completa”, e dá o resumo esquemático de um todo). Com efeito, as três provas citadas englobam os três aspectos da personalidade: as sensações (etérico), as emoções (astral) e o intelecto (mental concreto).
1.º TENTAÇÃO - O egoísmo na luta da sobrevivência e do bem estar, da satisfação das necessidades básicas da criatura humana: a fome, o repouso, as ânsias fisiológicas do sexo, as angústias das sensações chamadas “físicas”, mas na realidade pertencentes ao duplo etérico. Então, o Espírito é instado a ceder aos desejos egoísticos dos sentidos do “eu” menor dando-lhe a “alimentação” que o satisfaça, simbolizada no “pão” que mata a fome. O ato de “matar a fome” faz bem compreender a índole dessa tentação, muito mais vasta que a simples fome estomacal: trata-se de SACIAR os instintos inferiores do etérico que se manifesta através do corpo denso.
Além disso, outro aspecto transparece: preso no mundo material das formas, o “espírito” (personalidade) tenta transformar as “pedras” (que exprimem os ensinamentos interpretados à letra) em “pão”,
isto é, em alimento. Explicamos: o “espírito”, ao invés de adorar espiritualmente (“em Espírito de verdade”, Jo. 4:23 e 24) , pretere a exteriorização material da religião, que lhe possa satisfazer aos sentidos físicos, aos instintos sensoriais, emocionais e intelectuais, e por isso transforma os vãos do espírito em “pães” materiais, visíveis e sensíveis, chegando ao clímax de pretender transformar o próprio Deus em pão. Todo seu espiritualismo reduz-se a liturgias e ritos, a atos externos e poderes ocultos de magia, de vaidade, de vestimentas diferentes e exóticas, de tudo o que satisfaça à “separação”, ao luxo, à ostentação da “pompa de satanás” (que é exatamente a vaidade das criaturas humanas), assim, a espiritualização nesse grau visa à elevação do próprio “eu” pequeno, em detrimento de todos os outros “eus”, julgados “outras” pessoas. E a criatura cega transforma os preceitos evangélicos, interpretados ao pé da letra (pedras) em satisfações egolátricas de instinto que lhes saciem a fome de vaidade (pães).
O combate a essa tentação é feito pela auto-disciplina, isto é, pela disciplina que o Espírito, guiado pelo EU REAL impõe ao “eu” menor, fazendo-lhe ver que o Homem (integral) vive de tudo o que vem de Deus, desse Deus residente no coração do homem, e não apenas das exterioridades transitórias da personalidade efêmera.
2.ª TENTAÇÃO - A vaidade própria do “eu” personalístico que se julga separado, diferente, e sempre (são raríssimas as exceções!) superior a todos os demais, é outra das mais difíceis provas a ser superada pelo “espírito” mergulhado na Cruz da personalidade (“cruz”, quatro pontas, significando o quaternário inferior).
“Lançar-se do pináculo do templo” (emoção de grandes efeitos mágicos) na certeza de que Deus o protege em tudo, mesmo nas loucuras insensatas de pretensões vaidosas, por um privilégio a que se julga “com direito”. De fato, o desenvolvimento do corpo astral aguça as emoções e as hipertrofia de tal forma, que elas empanam o raciocínio equilibrado, toldam a razão, fazem perder o senso das proporções” Nas criaturas emocionalmente desequilibradas vemos a ânsia de “operar milagres”; a rebelião contra a autoridade da Razão superior, a pretensão egocêntrica de que “ele” sabe e os outros são ignorantes; a ambição de possuir poderes para comandar movimentos religiosos; o desejo de ser “chefe” espiritual ou religioso, nem que seja de um pugilo de criaturas que se fascinam por suas palavras, e as acompanham cegamente, tributando-lhes elogios a cada palavra que proferia, e que ele aceita, com gratidão, porque lhe acaricia a vaidade.
Essa a razão de vermos, desde que a história regista os acontecimentos da sociedade humana, essa constante fragmentação religiosa, que se opera logo após o desaparecimento do “Mensageiro” divino que as revelou. Numerosas são as criaturas que se julgam “taumaturgos”, com poderes sobre os “anjos” e, rebelando-se contra o meio ambiente, instituem a própria seita. Daí verificarmos que esses homens não defendem idéias novas, divulgando-as em estudos e pesquisas impessoais, mas antes, querem logo iniciar grupos novos e dissidentes, dos quais passam eles ser o chefe, o cabeça. Quantas “heresias” se multiplicaram nos primeiros séculos do cristianismo, quantas seitas pulularam nos meios evangélicos, quantos movimentos teosóficos e rosa-cruzes que se combatem, quantos milhares de “centros” espíritas se fragmentam do pensamento original, criando “inovações”, quase nunca com sentido lógico, quase sempre sem razão de ser; mas o móvel subconsciente e o desejo de “chefiar” alguma coisa, de “separar-se” do grupo, de concorrer demonstrando gozar de proteções especiais do mundo espiritual. Não é esta uma característica apenas das criaturas encarnadas: também os desencarnados que carregam para além do túmulo, no “espírito”, seus defeitos personalísticos, também eles gostam muito de criar seus “grupinhos”, onde possam pontificar, conseguindo no mundo astral o que não conseguiram na Terra; aproveitam médiuns invigilantes, e aí temos outra “facção” a surgir.
E é típico exigirem “separação”, proibirem estudos e leituras, colocando livros no índex particular, e garantindo que a “salvação” (ou pelo menos especiais privilégios) só se dará dentro daquele pugilo.
Como isto se passa no mundo material, que é o mundo da divisão, é natural que arrastem após si todos os que sintonizam com o “separatismo”, cedendo à tentação de “atirar-se do pináculo do templo” da Verdade, para os labirintos barônticos do personalismo satânico.
Outro ângulo dessa tentação é a ambição de poderes mágicos, a crença de que “gestos” e atos físicos criem efeitos espirituais; a pretensão de dominar “espíritos” e elementais, sem pensar nos resultados que daí possam advir. Os poderes “ocultos”, que envaidecem e separam as criaturas, é aspecto importante dessa prova de fogo por que todos os que já desenvolveram o corpo emocional (astral) têm que passar.
O combate a essa tentação, isto é, a vitória sobre essa prova, esse “exame” - a que só é submetida certa classe de pessoas mais evoluídas que as da anterior tentação porque já desenvolveram o corpo astral - é realizada com a auto-renúncia do “eu” menor: “não tentarás o Senhor teu Deus” exprime, pois, “não quererás ser superior ao teu EU REAL, não pretenderás exigir dele favores especiais nem quererás impor-te a ele”. Renunciar à própria vaidade de querer ser chamado “pai” ou “mestre” (“a ninguém na Terra chameis vosso pai, porque só UM é vosso Pai: aquele que está nos céus; nem queirais ser chamados mestres, porque um só é vosso mestre: o Cristo” Mat. 23:9-10), esse Cristo Interno que está dentro de TODOS, e não apenas de alguns privilegiados.
Jesus deu-nos o exemplo típico dessa vitória: pregou um IDEAL, mas não chefiou nenhum movimento religioso; atendeu aos judeus, sem afastá-los de Moisés; socorreu à siro-fenícia, sem arrancá-la de seus ídolos; elogiou o centurião romano, sem exigir o seu repúdio a Júpiter; e, no exemplo da “caridade perfeita”, citou o samaritano, de religião diferente da Sua. E de tal forma renunciou à Sua personalidade, que o Cristo agiu plenamente através dele (“Nele habitou corporalmente toda a plenitude da Divindade” Col. 2:9) de tal maneira, que, durante séculos, foi Ele confundido com o próprio Deus.
E isso foi conseguido com o Seu mergulho humilde nas águas da matéria, na Sua encarnação como ser humano: “aniquilou-se tomando a forma de servo, feito semelhante aos homens e, sendo reconhecido como homem, humilhou-se, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filip. 2:7-8).
3.ª TENTAÇÃO - Esta é a experimentação que as criaturas encarnadas (presas à personalidade, crucificadas no quaternário inferior) têm maior dificuldade em superar. Não é mais no duplo etérico, com as sensações; nem no astral, com as emoções, mas no mais terrível de todos os adversários, maior que os prazeres (sensações), maior que a vaidade (emoções): trata-se do INTELECTO, isto é, do ORGULHO de julgar-se melhor que os “outros”. Daí parte a oposição máxima, não mais no mesmo plano, de “ser diferente”, mas num plano “acima”, de ser superior. Todas as criaturas se julgam ACIMA DOS OUTROS. Pode tratar-se de um ignorante: há um ponto em que “não cede”, há sempre
um aspecto em que “ninguém o iguala”. Por ínfima que seja a criatura, embora reconhecendo a superioridade de outrem num ou noutro pormenor, descobre sempre algo em que ninguém lhe é superior.
Daí a crítica e o julgamento que sempre todos nos acreditamos autorizados a fazer.
E a ambição orgulhosa do mando ataca a todos, ao lado da ambição de posses materiais (riquezas) que lhes dê prestígio e superioridade no mundo material, para garantir-lhe a força da superioridade.
Todos querem ter mais e melhor do que o vizinho. Se o não conseguirem, não importa: são “mais educados ”, “mais generosos”, “mais inteligentes”, “mais fortes”, “mais saudáveis”, ou “gozam de amizades mais ilustres”, qualquer coisa se arrumará, pela qual eles “não se trocam” pelo fulano...
Comum é que o chefe religioso venha a ambicionar logo a seguir o domínio político, para ampliar sua ascendência sobre as massas e fazer crescer sua autoridade “carismática”, outorgada por Deus. Os meios para conseguí-lo não lhe ferem o escrúpulo. E uma vez guindados ao poder, não mais desejam apear. Nem sempre isso ocorrerá visando a uma nação: pode ser apenas pequeno grupo e até uma família reduzida. Isso explica o desgosto dos pais ao verem seus filhos crescerem e se independizarem.
Daí a rebeldia dos filhos, em certa idade, sentindo também a “tentação” do mando, pretendendo derrubar os pais do pedestal em que se encontram.
Provenientes desse “messianismo” do poder, os ditadores, da direita, da esquerda ou do centro cercearem a liberdade dos súditos, certos de que só eles, e os que os aplaudem, são “iluminados”, têm sabedoria e compreensão, constituindo “os outros” um rebanho sem espírito. Desconhecem que cada criatura tem Deus dentro de si: para eles, Deus está só com eles, porque eles são os “protegidos”, colocados “pela Divindade” acima de todos os mortais.
Não estamos falando de “alguns” homens, mas de TODAS AS CRIATURAS HUMANAS. Sem exceção, somos todos experimentados nesse setor.
Para superar essa “tentação” há um só remédio: o auto-sacrificio, não mais adorando a personalidade (satanás), mas unicamente cultuando a Deus que está DENTRO DE NÓS, como também DENTRO DE TODAS AS CRIATURAS: moços e velhos, homens maduros e crianças, mulheres e homens, brancos e negros, ignorantes e sábios, santos e criminosos.
Quando compreendermos e “sentirmos” isso, sacrificaremos nosso personalismo, e ligaremos nosso “espírito” ao EU REAL. Colocaremos a personalidade em seu lugar, submetendo-a, como o fez Jesus: “rende-te, satanás”, submete-te à individualidade!
Prestar culto à personalidade (satanás) é IDOLATRIA, e praticara idolatria é, seguindo as Escrituras, pecar por adultério contra Deus. O Espirito tem que estar ligado ao EU REAL e não à personalidade;
se ele se afasta do primeiro para ligar-se ao segundo, está cometendo adultério, está separando o que Deus uniu (“O que Deus uniu o homem não separe”, Mat. 19:6 e Mc. 10:9).
Só o sacrifício, com a submissão do “eu” menor, é que pode conferir a vitória sobre o orgulho da personalidade, que desejaria dominar e submeter a si a individualidade, pedindo: “adore-me!”
Quando, porém, o homem vence as três etapas, dominando as sensações, as emoções e o intelecto, ele vê que os anjos de Deus vêm servi-lo, e o “eu menor” (satanás o antagonista), se retira vencido, até o “momento oportuno”, porque outras provas ainda virão, todas elas ensinadas nos Evangelhos.
16-22
Depois da festa iniciática no Monte da Vigilância (Samaria), Jesus recolhe-se novamente ao "Jardim Fechado" (Galiléia) e fala aos "consagrados a Deus" (nazireus), entre os quais se havia criado, comentando o profeta Isaías.
A reunião ("sinagoga" é palavra grega que significa "reunião" ou, por extensão, "lugar de reunião"), é feita no dia do "repouso" ("sábado" exprime exatamente "repouso"), repouso das ocupações materiais.
O estabelecimento de um dia de repouso para a personalidade (trabalhos externos) mostra-nos a necessidade que temos de parar intermitentemente as atividades personalísticas, para dedicar-nos tão só às do Eu Profundo, na leitura e sobretudo na meditação sobre textos de Mestres. Nada de transformar esse descanso da personalidade em outras atividades personalísticas de culto externo e ritualístico: temos que alimentar o Espírito. E por isso os judeus nas sinagogas (e Jesus o exemplifica) limitavam-se a ler e comentar os livros revelados (mediúnicos).
O texto de Isaías foi escolhido: suas palavras revelam a doutrina de Jesus, já preconizada por Isaías, um dos maiores profetas (médiuns) que apareceu na Terra.
Começa esclarecendo que "um espírito (em grego sem artigo) do Senhor está sobre ele", ou seja, declarando aberta e taxativamente que se encontrava mediunizado, recebendo um "espírito", que é bom e elevado ("do Senhor"). Esse "espírito o ungiu", ou seja, o cristificou, para que ele pudesse realizar sua missão. Observemos que o médium (profeta) não age por si: é intermediário. Não alcançou por si mesmo a cristificação (pois nesse caso seria "mestre", e não medianeiro). Daí a necessidade de que venha "sobre ele", envolvendo-o, um "espírito do Senhor", para ungi-lo, com a finalidade de sustentá-lo para boa execução dos trabalhos espirituais. Na falta de mestres encarnados na Terra, os "espíritos do Senhor" servem-se de instrumentos aptos a substituí-los. E a prova é que, por vezes, quando o "espírito do Senhor" se retira, os intermediários fraquejam.
E a tarefa era anunciar "as boas notícias" ou "evangelho" aos mendigos.
Não aos mendigos materiais, de moedas ou de pão, mas aos "mendigos do espírito", àqueles que sentem fome e sede de espírito e o mendigam ao Pai. Nesse mesmo sentido Jesus proferiu a bem aventurança: "felizes os mendigos do espírito (ptôchoi tôi pneúmati) ou seja, os que mendigam com lágrimas o dom do espírito. A esses sequiosos de espiritualizar-se, serão dadas as "boas notícias".
Então o profeta anuncia que vem proclamar a "libertação dos que estão cativos" na matéria, a restauração da vista espiritual aos que estão cegos, sem ver a verdade; mais ainda, para por em liberdade os oprimidos pela carne, pois doravante terão a faculdade de, mergulhando na Consciência Cósmica,
não mais sentirem o peso da matéria que lhes oprime a mente e o espírito, conforme dizia "o sábio" no Livro da Sabedoria (9:15) "o corpo que se corrompe (que se coagula na matéria) pesa sobre a alma, e esta habitação terrestre abate o espírito que pensa muitas coisas".
Além disso, vem proclamar o ano (isto é, a época) aceitável ao Senhor, pois Ele só espera a preparação do homem para aceitá-lo e nele manifestar-se.
Jesus, a seguir, revela que chegou o momento de cumprir-se a Escritura. A individualidade é que sabe e pode declarar ao homem que chegou o momento de realizar o Encontro Sublime.
O evangelista, sem reproduzir as palavras proferidas por Jesus, declara que todos ficaram encantados com as palavras de amor que procediam de Sua boca, tal como o ficam todos aqueles que tem a felicidade de ouvir as misteriosas palavras silenciosas e consoladoras que o Cristo Interno profere no mais recôndito do coração humano, e que chegam em ondas benéficas ao cérebro inebriando de gozo o intelecto da personalidade.
31
Neste episódio consideramos não mais um discipulado, ou seja, a aceitação, por parte da personalidade, das doutrinas da individualidade; mas sim a renúncia à própria personalidade, para ir em busca da individualidade. E isso é feito com a renúncia total de tudo: pais, haveres e profissão.
A um simples chamado, já preparados, eles obedecem imediatamente, sem nada perguntar, sem qualquer preocupação: é a adesão integral.
Daí por diante atrairão a si não mais peixes (corpos materiais) capturados com redes, aprisionados à violência e dominados com despotismo tirânico; mas antes criaturas humanas, atraídas por amor de modo a se chegarem espontaneamente e a permanecerem com a liberdade individual.
Aprendemos, ainda, que nem todos são chamados: Zebedeu continuou em seu labor material, porque sua evolução lhe não permitia aderir à individualidade. Permaneceu, pois, com "os empregados" (veículos inferiores) a cuidar das coisas físicas.
O grupo de cinco partiu das margens do lago e penetrou a "cidade do Consolador" (Cafarnaum), prontos todos a iniciar a tarefa de levar conforto aos que sofriam, de enxugar as lágrimas dos que choravam, de reavivar a luz dos que estavam nas trevas, de abrir os ouvidos dos que nada percebiam espiritualmente, de servir de muletas aos que coxeavam no caminho do progresso, de limpar os densos fluídos dos leprosos morais: ministério de Consolação e magistério de espírito, calor para os corações e luz para as mentes.
31-37
Jesus, que representa a individualidade, ensina-nos com seu exemplo que mesmo aqueles que já não necessitam dos "trilhos" de uma religião, nada perdem em sujeitar-se às tradições de seu povo; antes, devem aproveitar as situações que se apresentam para elucidar a todos as grandes verdades profundas do Espírito. Deve, portanto, frequentar o círculo religioso a que se acha ligado, seja ele qual for. Mostra-nos que, nesses ambientes, deve o iluminado agir com força e autoridade, mas sobretudo com amor, atendendo aos necessitados, servindo a sua necessidade de evolução. Não obstante, deve evitar que qualquer indiscrição queira revelá-lo como superior aos outros; então, imporá silêncio, todas as vezes que um desencarnado tente revelar quem ele é. Nenhuma dúvida, porém, quanto à ação que lhe
seja possível, em benefício de qualquer necessitado espiritual.
Outra interpretação do texto revela-nos que nossa individualidade deve agir com autoridade cada vez que descobre que nossa personalidade está dominada por “espíritos atrasados” de nossos vícios milenares:
egoísmo, ambição, ódios, etc. Quando nossa iluminação perceber que nosso "espírito personalístico" é dominado por qualquer vício, deve imediatamente ordenar seu aniquilamento, embora nosso “espírito atrasado" se contorça, grite e nos lance por terra, sofrendo ao destacar-se do vício.
Sem essa força moral do Espírito, jamais poderia o “espírito" progredir: permaneceria séculos (como tem permanecido) preso às ilusões demolidoras de nossa ascensão espiritual, aos apegos desordenados às coisas e prazeres materiais transitórios. Lição oportuna e necessária para nossa evolução.
38-39
Pensam alguns que a criatura que atingiu a vida permanente na individualidade não deve mais atender ao círculo familiar, mas apenas aos estranhos. Jesus ensina-nos que isso constitui um erro. Os familiares merecem tanto nossa atenção quanto os estranhos, porque nos são mais achegados; e essa aproximação mostra-nos que eles precisam de nós ainda mais que os outros. Portanto, os parentes não devem ser menosprezados, mas atendidos com solicitude. Se bem que devamos ter desapego da família, jamais devemos abandoná-la. O mesmo comportamento deve ser mantido com os familiares de amigos e condiscípulos.
40-41
Mais uma lição de SERVIÇO, que jamais deve ser negado pela individualidade: é através da libertação das personalidades ainda presas ao resgate das dívidas do passado, que as criaturas poderão um dia compreender o caminho que se lhes abre diante. Só uma pessoa, que pode superar seus problemas, consegue atingir a visão da estrada a percorrer.
Ensina-nos, também, que mesmo o Espírito liberto, e a viver na individualidade, deve cuidar de seus veículos físicos, procurando curar-se de suas doenças, libertando-os de seus apegos e obsessões pelas coisas materiais. Pelo fato de havermos passado a um degrau superior, nem por isso devemos descuidar, e muito menos maltratar, os veículos inferiores que nos ajudam na caminhada: o motorista deve cuidar bem do seu automóvel, senão poderá este deixá-lo no meio da estrada.
Evitemos, porém, intransigentemente que nos teçam elogios, ainda que esses elogios digam a verdade.
Não basta gabar-se: nem mesmo que os outros o façam deve ser permitido por nós. Por mais elevados que estejamos, seremos os primeiros a reconhecer que muito nos falta a percorrer: a humildade REAL é, como definiu uma grande amiga nossa, "o conhecimento de nossa participação na Vida", portanto a simplicidade da aceitação daquilo que se nos apresenta, e não as palavras e impressões que possam provir de outros a nosso respeito.
42-43
Demonstra-nos Jesus, com seu exemplo, que por mais elevado que seja ou esteja o Espírito, não pode prescindir da união com Deus em isolamento, numa prece que o fortaleça. Muitos acreditam que o trabalho, sobretudo espiritual, é uma oração. Sem dúvida que é. Mas não basta. É indispensável oração isolada, do Espírito que se une a Deus em seu coração. E para isso, é indispensável a solidão, o afastamento do bulício do mundo, nem que seja, por alguns minutos ao dia, ou à noite.
Todas as criaturas são enviadas à Terra para uma tarefa. e seu progresso consistirá em cumpri-lo à risca. Não é portanto justo que, para atender a quem nos chama, por mais sofredor que seja. tenhamos que desviar o rumo de nossa rota: antes de tudo e acima de tudo, o cumprimento de Vontade divina a nosso respeito. Quando podemos, atendemos com todo interesse aos que necessitam de nós. Mas quando isso nos desviasse do caminho, sigamos nosso roteiro, porque é mais importante do que uma "caridade" mal interpretada. Não temos direito de falsear nossos deveres espirituais, e o primordial dever é obedecer à tarefa que nos foi imposta. Jamais esqueçamos que a LEI não comete injustiças: se alguém sofre, é resultado de seus próprios atos no passado e se, no momento, não podemos atender porque nossa tarefa nos desvia do caminho deles, isso significa que a hora de eles serem aliviados eu libertados ainda não soou.
Também nos ensina este trecho, que jamais deve o Espírito deixar de fazer sua oração de união com Deus, embora os necessitados (nossos veículos inferiores) nos chamem para distrair-nos dessa necessidade vital. O caminho para Deus, por si só, os ajudará. Precisamos erguer-nos a outros planos: saibamos não dar ouvidos aos apelos, sobretudo aos desordenados, de nossos veículos (corpo, sensações, emoções, intelecto). Só assim progrediremos para nossa união com Deus.
2 E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome.
3 E disse-lhe o diabo: Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão.
4 E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.
5 E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo.
6 E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória; porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero.
7 Portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
8 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás.
9 Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo;
10 Porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem,
11 E que te sustenham nas mãos, Para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra.
12 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Dito está: Não tentarás ao Senhor teu Deus.
13 E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.
14 Então, pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia, e a sua fama correu por todas as terras em derredor.
15 E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado.
16 E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
17 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:
18 O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração,
19 A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do SENHOR.
20 E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
21 Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.
Tomando lugar junto dos habitantes de Nazaré, exclamou Jesus, após ler algumas promessas de Isaias: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.”
Os agrupamentos religiosos são procurados, quase sempre, por investigadores curiosos que, à primeira vista, parecem vagabundos itinerantes;
todavia, é forçoso reconhecer que há sempre ascendentes espirituais compelindo-lhes o espírito ao exame e à consulta; eles próprios não saberiam definir essa convocação sutil e silenciosa que os obriga a ouvir, por vezes, grandes preleções, longas palestras, exposições e elucidações que, aparentemente, não os interessam.
Em várias circunstâncias, afirmam tolerar o assunto, em vista do código de gentileza e do respeito mútuo; entretanto, não é assim. Existe algo mais forte, além das boas maneiras que os compelem a ouvir.
É que soou o momento da revelação espiritual para eles.
Muitos continuam indiferentes, irônicos, recalcitrantes, mas a responsabilidade do conhecimento já lhes pesa nos ombros e, se pudessem sentir a verdade com mais clareza, albergariam a carinhosa admoestação do Mestre no
íntimo da alma: “Hoje se cumpre esta Escritura em vossos ouvidos.”
A misericórdia foi dispensada. Deu Jesus alguma coisa de sua bondade infinita. Cumpriu-se a divina palavra. Se os interessados não se beneficiarem com ela, pior para eles.
Emmanuel - Caminho, Verdade e Vida, Cap. 141
22 E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José?
23 E ele lhes disse: Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.
24 E disse: Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria.
25 Em verdade vos digo que muitas viúvas existiam em Israel nos dias de Elias, quando o céu se cerrou por três anos e seis meses, de sorte que em toda a terra houve grande fome;
26 E a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a Sarepta de Sidom, a uma mulher viúva.
27 E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o sírio.
28 E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira.
29 E, levantando-se, o expulsaram da cidade, e o levaram até ao cume do monte em que a cidade deles estava edificada, para dali o precipitarem.
30 Ele, porém, passando pelo meio deles, retirou-se.
31 E desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e os ensinava nos sábados.
32 E admiravam a sua doutrina porque a sua palavra era com autoridade.
33 E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um demônio imundo, e exclamou em alta voz,
34 Dizendo: Ah! que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem sei quem és: O Santo de Deus.
35 E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele sem lhe fazer mal.
36 E veio espanto sobre todos, e falavam uns com os outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles saem?
37 E a sua fama divulgava-se por todos os lugares, em redor daquela comarca.
38 Ora, levantando-se Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão; e a sogra de Simão estava enferma com muita febre, e rogaram-lhe por ela.
39 E, inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. E ela, levantando-se logo, servia-os.
40 E, ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e, pondo as mãos sobre cada um deles, os curava.
41 E também de muitos saíam demônios, clamando e dizendo: Tu és o Cristo, o Filho de Deus. E ele, repreendendo-os, não os deixava falar, pois sabiam que ele era o Cristo.
42 E, sendo já dia, saiu, e foi para um lugar deserto; e a multidão o procurava, e chegou junto dele; e o detinham, para que não se ausentasse deles.
43 Ele, porém, lhes disse: Também é necessário que eu anuncie a outras cidades o evangelho do reino de Deus; porque para isso fui enviado.
44 E pregava nas sinagogas da Galiléia.
Interpretação de Carlos Torres Pastorino, Sabedoria do Evangelho
1 - 13 -> Todos os três epítetos referem-se à PERSONALIDADE: é o quaternário inferior que, pela encarnação, estabelece a separação, a divisão, a desunião entre as criaturas, e que se opõe à espiritualização;
é o adversário e antagonista da evolução, que tenta o homem para que volte sempre à matéria.
O Espírito (Cristo) é um só em todos (“um só Espírito há”, Ef. 4:4), porque o Foco Incriado (Deus) é um só (“há um só Deus e Pai de todos”, Ef. 4:6). Quando as Centelhas se afastam do Foco, se esfriam ou congelam (por estarem distantes vibratoriamente do calor) e se cristalizam na matéria densa opaca (que é “trevas” por distanciamento vibratório do Foco de Luz). Então, as Centelhas ficam separadas umas das outras pelo corpo denso de que se revestiram, seja ele mineral, vegetal ou animal; não obstante, mesmo sendo a personalidade “o antagonista, o adversário”, continua sendo “Lúcifer”, ou seja, o “portador da luz”, porque tem dentro de si a Luz Divina. Divididas e separadas em corpos diferentes, estabelece-se toda a sequência de contrastes, egoísmos, vaidades, ciúmes, ódios, etc.
O trabalho evolutivo consiste na reunificação de todos em UM; em outros termos, no AMOR total entre todos, sem distinções e qualquer espécie. O que se opõe a esse AMOR-UNIÃO e a personalidade, que é o “antagonista” (satanás) , o “adversário” (diabo) , o “tentador”, que atrai o espírito para a separação, querendo sobrepujar os demais .
A personalidade é que, separada como está, distingue o “eu” do “tu”, opondo o “eu” a “todo o resto.
”
Quando conseguirmos reunir, ou melhor, reunificar tudo NUM só Cristo (“para que sejam UM comigo, assim como sou UM contigo, Pai”, João, 17:22) teremos alcançado a meta da evolução. E então a personalidade ( opositor, diabo, satanás, tentador) e sua consequência inevitável, a morte, estarão dominadas e vencidos: “a morte foi aniquilada pela vitória (cfr. Isaías, 25:8). Onde está ó morte a tua vitória? (cfr. Oséas, 13:14). Onde está ó morte o teu aguilhão (teu estimulante)? O aguilhão da morte é a queda (o erro, a involução na matéria), e a força da queda é a lei (da evolução)”, lemos em Paulo (I Cor.15:54-55).
Após ter a individualidade (Jesus) realizado o Sublime Encontro ou Mergulho no Fogo, Cristo Interior, é ela levada para consolidar essa união no “deserto”, onde permanece em oração e meditação.
Realmente, só no isolamento podemos conseguir uma fixação e vibrações em faixas tão delicadas de frequência tão elevada. Qualquer distração faria fugir a sintonia. E o burburinho ocasionaria distração. Por isso, quando o Momento Sublime se apresenta, o Discípulo é levado pelo Espírito (individualidade) ao isolamento, onde viverá em oração e meditação. Isso ocorria muito entre eremitas e cenobitas em tempos idos. Hoje ainda é frequente no Oriente. (Índia e Tibet) embora menos comum no Ocidente, onde existe, porém, nos conventos das Trapas.
O “deserto” exprime um lugar “sem habitantes”. O planeta Terra é de fato um local em que não são vistos os “espíritos”. Nesse sentido, é um deserto de espiritualidade, embora seja densamente habitado por criaturas físicas. Qualquer espírito elevado, que saia de seu “hábitat” natural no mundo dos espíritos e venha à Terra, penetra realmente num deserto e, como diz Marcos, “vive entre as feras”, embora “os anjos o sirvam”, ou seja, os “espíritos” bons jamais o deixem abandonado.
O número quarenta tem um significado especial: exprime o arcano do plano físico, sublinhando seu caráter material. Representa a esfera da concretização das formas nervosas, isto é, a materialização (encarnação) do astral e do etérico. “Quarenta” significa também a “luta do espírito com o mundo exterior”, ou seja, a realização da Mônada ou Centelha divina do lado de fora de si mesma. O discípulo, no Caminho, sabe, porém, que todos os estados materiais (o deserto) são efêmeros e cessarão um dia. E apesar de só haver dificuldades, sabe que essas dificuldades são momentâneas e não impedir ão a ascensão que buscamos (cfr. Serge Marcotoune, “La Science Secrete des Initiés”, pág. 203 ss., éd. André Delpeuch, Paris, 1928).
Então, os quarenta dias no deserto, entre feras (mas servido pelos anjos) é a vida da Centelha divina no planeta Terra, entre criaturas involuídas.
E sua passagem pela Terra tem justamente a finalidade de “ser tentada”, ou melhor, ser “experimentada ” através do “espírito” a que deu nascimento. Assim como em nossas escolas ninguém é promovido de ano sem prestar exames, assim na vida espiritual ninguém ascende de plano sem passar pelos “exames” das provações. E é exatamente por isso que se torna imprescindível a encarnação no plano físico. Com efeito, se a encarnação pudesse ser dispensável, acreditamos que muitos “espíritos” não viriam ao planeta, e evoluiriam diretamente no mundo espiritual (doutrina aceita por Swedenborg): uma vez abandonada a matéria, nunca mais a ela voltariam. A teoria pode ser sedutora, mas não corresponde aos FATOS comprovados. Ora, contra fatos não há argumentação filosófica que se sustente. E os fatos, cientificamente experimentados e comprovados, demonstram que o “espírito” vem à Terra a cada novo passo que tenha que conquistar. Como não podemos admitir que a Sabedoria da Vida obrigue a passos inúteis, concluímos que a única via de acesso a novos planos seja através da materialização temporária na Terra, com esquecimento do passado, para que, como nova criatura (nova personalidade), possa assumir a responsabilidade de seus atos, merecendo assim integralmente a melhoria a que fez jus (ou a consequência dolorosa de seus erros).
Uma vez na matéria, o Espírito (individualidade) está preso ao “tentador”, que pode chamar-se “diabo ” ou “satanás”, mas é simplesmente a PERSONALIDADE, o quaternário inferior. E por mais consciente que esteja o Espírito (individualidade), as “tentações” (experimentações ou provas) são inevitáveis, porque são inerentes à própria personalidade, são a condição “sine qua non” da encarnação ou “crucificação” na matéria. O Espírito, com seu mergulho no quaternário, assume novo “eu”, um “eu” externo e pequeno, que é porém o “eu” que se manifesta consciente de si e que, por isso, assume a liderança da consciência. Esse “eu” menor (ou “espírito”) abafa o Espírito (individualidade) e o Eu Profundo, e passa a agir como se fora o único chefe, comandando o processo evolutivo: o “eu” menor quer agir por si e dirigir tudo, não tomando conhecimento de que exista outro “EU” superior a ele: é, por isso, o verdadeiro adversário ou antagonista do Espírito (individualidade) e do EU REAL, que se vê escondido e sediado no coração (embora em outra dimensão), forcejando por agir - o que nem sempre consegue. Dessa luta titânica entre o “eu” pequeno ou personalidade (o “espírito”) e o Espírito, ou individualidade, vai resultar o progresso. Se o “eu” pequeno vence, o Espírito derrotado terá que voltar mais tarde à matéria, com outro “eu” pequeno diferente, para ver se consegue conquistar a palma da vitória. E um dia obterá inevitavelmente o triunfo, embora demore séculos ou milênios nessa árdua batalha interna, tão bem descrita no Bhagavad-Gita.
Quando o “eu” pequeno se anula pela humildade, dando ansas à individualidade de dirigi-lo, a vitória do Espírito se afirma, e ele prossegue para o plano superior seguinte.
Dessa luta (tentação) dá-nos conta o relato evangélico.
Depois de “mergulhar” na água (de renascer através do mergulho no líquido amniótico) o Espírito é
levado ao “deserto (aos embates da Terra) para ficar em contato com as “feras” (homens atrasados, pequenos “eus” ferozes e egoístas), permanecendo “quarenta” dias e quarenta noites (permanecendo na matéria) em jejum absoluto (em isolamento total do EU REAL). É aí que o Espírito encontra o antagonista personalizado (satanás, nosso próprio “eu” menor) que quer arrastá-lo a seus caprichos.
Surgem então as três “tentações” principais, as mais difíceis de vencer por qualquer pessoa (o arcano 3 representa a “obra completa”, e dá o resumo esquemático de um todo). Com efeito, as três provas citadas englobam os três aspectos da personalidade: as sensações (etérico), as emoções (astral) e o intelecto (mental concreto).
1.º TENTAÇÃO - O egoísmo na luta da sobrevivência e do bem estar, da satisfação das necessidades básicas da criatura humana: a fome, o repouso, as ânsias fisiológicas do sexo, as angústias das sensações chamadas “físicas”, mas na realidade pertencentes ao duplo etérico. Então, o Espírito é instado a ceder aos desejos egoísticos dos sentidos do “eu” menor dando-lhe a “alimentação” que o satisfaça, simbolizada no “pão” que mata a fome. O ato de “matar a fome” faz bem compreender a índole dessa tentação, muito mais vasta que a simples fome estomacal: trata-se de SACIAR os instintos inferiores do etérico que se manifesta através do corpo denso.
Além disso, outro aspecto transparece: preso no mundo material das formas, o “espírito” (personalidade) tenta transformar as “pedras” (que exprimem os ensinamentos interpretados à letra) em “pão”,
isto é, em alimento. Explicamos: o “espírito”, ao invés de adorar espiritualmente (“em Espírito de verdade”, Jo. 4:23 e 24) , pretere a exteriorização material da religião, que lhe possa satisfazer aos sentidos físicos, aos instintos sensoriais, emocionais e intelectuais, e por isso transforma os vãos do espírito em “pães” materiais, visíveis e sensíveis, chegando ao clímax de pretender transformar o próprio Deus em pão. Todo seu espiritualismo reduz-se a liturgias e ritos, a atos externos e poderes ocultos de magia, de vaidade, de vestimentas diferentes e exóticas, de tudo o que satisfaça à “separação”, ao luxo, à ostentação da “pompa de satanás” (que é exatamente a vaidade das criaturas humanas), assim, a espiritualização nesse grau visa à elevação do próprio “eu” pequeno, em detrimento de todos os outros “eus”, julgados “outras” pessoas. E a criatura cega transforma os preceitos evangélicos, interpretados ao pé da letra (pedras) em satisfações egolátricas de instinto que lhes saciem a fome de vaidade (pães).
O combate a essa tentação é feito pela auto-disciplina, isto é, pela disciplina que o Espírito, guiado pelo EU REAL impõe ao “eu” menor, fazendo-lhe ver que o Homem (integral) vive de tudo o que vem de Deus, desse Deus residente no coração do homem, e não apenas das exterioridades transitórias da personalidade efêmera.
2.ª TENTAÇÃO - A vaidade própria do “eu” personalístico que se julga separado, diferente, e sempre (são raríssimas as exceções!) superior a todos os demais, é outra das mais difíceis provas a ser superada pelo “espírito” mergulhado na Cruz da personalidade (“cruz”, quatro pontas, significando o quaternário inferior).
“Lançar-se do pináculo do templo” (emoção de grandes efeitos mágicos) na certeza de que Deus o protege em tudo, mesmo nas loucuras insensatas de pretensões vaidosas, por um privilégio a que se julga “com direito”. De fato, o desenvolvimento do corpo astral aguça as emoções e as hipertrofia de tal forma, que elas empanam o raciocínio equilibrado, toldam a razão, fazem perder o senso das proporções” Nas criaturas emocionalmente desequilibradas vemos a ânsia de “operar milagres”; a rebelião contra a autoridade da Razão superior, a pretensão egocêntrica de que “ele” sabe e os outros são ignorantes; a ambição de possuir poderes para comandar movimentos religiosos; o desejo de ser “chefe” espiritual ou religioso, nem que seja de um pugilo de criaturas que se fascinam por suas palavras, e as acompanham cegamente, tributando-lhes elogios a cada palavra que proferia, e que ele aceita, com gratidão, porque lhe acaricia a vaidade.
Essa a razão de vermos, desde que a história regista os acontecimentos da sociedade humana, essa constante fragmentação religiosa, que se opera logo após o desaparecimento do “Mensageiro” divino que as revelou. Numerosas são as criaturas que se julgam “taumaturgos”, com poderes sobre os “anjos” e, rebelando-se contra o meio ambiente, instituem a própria seita. Daí verificarmos que esses homens não defendem idéias novas, divulgando-as em estudos e pesquisas impessoais, mas antes, querem logo iniciar grupos novos e dissidentes, dos quais passam eles ser o chefe, o cabeça. Quantas “heresias” se multiplicaram nos primeiros séculos do cristianismo, quantas seitas pulularam nos meios evangélicos, quantos movimentos teosóficos e rosa-cruzes que se combatem, quantos milhares de “centros” espíritas se fragmentam do pensamento original, criando “inovações”, quase nunca com sentido lógico, quase sempre sem razão de ser; mas o móvel subconsciente e o desejo de “chefiar” alguma coisa, de “separar-se” do grupo, de concorrer demonstrando gozar de proteções especiais do mundo espiritual. Não é esta uma característica apenas das criaturas encarnadas: também os desencarnados que carregam para além do túmulo, no “espírito”, seus defeitos personalísticos, também eles gostam muito de criar seus “grupinhos”, onde possam pontificar, conseguindo no mundo astral o que não conseguiram na Terra; aproveitam médiuns invigilantes, e aí temos outra “facção” a surgir.
E é típico exigirem “separação”, proibirem estudos e leituras, colocando livros no índex particular, e garantindo que a “salvação” (ou pelo menos especiais privilégios) só se dará dentro daquele pugilo.
Como isto se passa no mundo material, que é o mundo da divisão, é natural que arrastem após si todos os que sintonizam com o “separatismo”, cedendo à tentação de “atirar-se do pináculo do templo” da Verdade, para os labirintos barônticos do personalismo satânico.
Outro ângulo dessa tentação é a ambição de poderes mágicos, a crença de que “gestos” e atos físicos criem efeitos espirituais; a pretensão de dominar “espíritos” e elementais, sem pensar nos resultados que daí possam advir. Os poderes “ocultos”, que envaidecem e separam as criaturas, é aspecto importante dessa prova de fogo por que todos os que já desenvolveram o corpo emocional (astral) têm que passar.
O combate a essa tentação, isto é, a vitória sobre essa prova, esse “exame” - a que só é submetida certa classe de pessoas mais evoluídas que as da anterior tentação porque já desenvolveram o corpo astral - é realizada com a auto-renúncia do “eu” menor: “não tentarás o Senhor teu Deus” exprime, pois, “não quererás ser superior ao teu EU REAL, não pretenderás exigir dele favores especiais nem quererás impor-te a ele”. Renunciar à própria vaidade de querer ser chamado “pai” ou “mestre” (“a ninguém na Terra chameis vosso pai, porque só UM é vosso Pai: aquele que está nos céus; nem queirais ser chamados mestres, porque um só é vosso mestre: o Cristo” Mat. 23:9-10), esse Cristo Interno que está dentro de TODOS, e não apenas de alguns privilegiados.
Jesus deu-nos o exemplo típico dessa vitória: pregou um IDEAL, mas não chefiou nenhum movimento religioso; atendeu aos judeus, sem afastá-los de Moisés; socorreu à siro-fenícia, sem arrancá-la de seus ídolos; elogiou o centurião romano, sem exigir o seu repúdio a Júpiter; e, no exemplo da “caridade perfeita”, citou o samaritano, de religião diferente da Sua. E de tal forma renunciou à Sua personalidade, que o Cristo agiu plenamente através dele (“Nele habitou corporalmente toda a plenitude da Divindade” Col. 2:9) de tal maneira, que, durante séculos, foi Ele confundido com o próprio Deus.
E isso foi conseguido com o Seu mergulho humilde nas águas da matéria, na Sua encarnação como ser humano: “aniquilou-se tomando a forma de servo, feito semelhante aos homens e, sendo reconhecido como homem, humilhou-se, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filip. 2:7-8).
3.ª TENTAÇÃO - Esta é a experimentação que as criaturas encarnadas (presas à personalidade, crucificadas no quaternário inferior) têm maior dificuldade em superar. Não é mais no duplo etérico, com as sensações; nem no astral, com as emoções, mas no mais terrível de todos os adversários, maior que os prazeres (sensações), maior que a vaidade (emoções): trata-se do INTELECTO, isto é, do ORGULHO de julgar-se melhor que os “outros”. Daí parte a oposição máxima, não mais no mesmo plano, de “ser diferente”, mas num plano “acima”, de ser superior. Todas as criaturas se julgam ACIMA DOS OUTROS. Pode tratar-se de um ignorante: há um ponto em que “não cede”, há sempre
um aspecto em que “ninguém o iguala”. Por ínfima que seja a criatura, embora reconhecendo a superioridade de outrem num ou noutro pormenor, descobre sempre algo em que ninguém lhe é superior.
Daí a crítica e o julgamento que sempre todos nos acreditamos autorizados a fazer.
E a ambição orgulhosa do mando ataca a todos, ao lado da ambição de posses materiais (riquezas) que lhes dê prestígio e superioridade no mundo material, para garantir-lhe a força da superioridade.
Todos querem ter mais e melhor do que o vizinho. Se o não conseguirem, não importa: são “mais educados ”, “mais generosos”, “mais inteligentes”, “mais fortes”, “mais saudáveis”, ou “gozam de amizades mais ilustres”, qualquer coisa se arrumará, pela qual eles “não se trocam” pelo fulano...
Comum é que o chefe religioso venha a ambicionar logo a seguir o domínio político, para ampliar sua ascendência sobre as massas e fazer crescer sua autoridade “carismática”, outorgada por Deus. Os meios para conseguí-lo não lhe ferem o escrúpulo. E uma vez guindados ao poder, não mais desejam apear. Nem sempre isso ocorrerá visando a uma nação: pode ser apenas pequeno grupo e até uma família reduzida. Isso explica o desgosto dos pais ao verem seus filhos crescerem e se independizarem.
Daí a rebeldia dos filhos, em certa idade, sentindo também a “tentação” do mando, pretendendo derrubar os pais do pedestal em que se encontram.
Provenientes desse “messianismo” do poder, os ditadores, da direita, da esquerda ou do centro cercearem a liberdade dos súditos, certos de que só eles, e os que os aplaudem, são “iluminados”, têm sabedoria e compreensão, constituindo “os outros” um rebanho sem espírito. Desconhecem que cada criatura tem Deus dentro de si: para eles, Deus está só com eles, porque eles são os “protegidos”, colocados “pela Divindade” acima de todos os mortais.
Não estamos falando de “alguns” homens, mas de TODAS AS CRIATURAS HUMANAS. Sem exceção, somos todos experimentados nesse setor.
Para superar essa “tentação” há um só remédio: o auto-sacrificio, não mais adorando a personalidade (satanás), mas unicamente cultuando a Deus que está DENTRO DE NÓS, como também DENTRO DE TODAS AS CRIATURAS: moços e velhos, homens maduros e crianças, mulheres e homens, brancos e negros, ignorantes e sábios, santos e criminosos.
Quando compreendermos e “sentirmos” isso, sacrificaremos nosso personalismo, e ligaremos nosso “espírito” ao EU REAL. Colocaremos a personalidade em seu lugar, submetendo-a, como o fez Jesus: “rende-te, satanás”, submete-te à individualidade!
Prestar culto à personalidade (satanás) é IDOLATRIA, e praticara idolatria é, seguindo as Escrituras, pecar por adultério contra Deus. O Espirito tem que estar ligado ao EU REAL e não à personalidade;
se ele se afasta do primeiro para ligar-se ao segundo, está cometendo adultério, está separando o que Deus uniu (“O que Deus uniu o homem não separe”, Mat. 19:6 e Mc. 10:9).
Só o sacrifício, com a submissão do “eu” menor, é que pode conferir a vitória sobre o orgulho da personalidade, que desejaria dominar e submeter a si a individualidade, pedindo: “adore-me!”
Quando, porém, o homem vence as três etapas, dominando as sensações, as emoções e o intelecto, ele vê que os anjos de Deus vêm servi-lo, e o “eu menor” (satanás o antagonista), se retira vencido, até o “momento oportuno”, porque outras provas ainda virão, todas elas ensinadas nos Evangelhos.
16-22
Depois da festa iniciática no Monte da Vigilância (Samaria), Jesus recolhe-se novamente ao "Jardim Fechado" (Galiléia) e fala aos "consagrados a Deus" (nazireus), entre os quais se havia criado, comentando o profeta Isaías.
A reunião ("sinagoga" é palavra grega que significa "reunião" ou, por extensão, "lugar de reunião"), é feita no dia do "repouso" ("sábado" exprime exatamente "repouso"), repouso das ocupações materiais.
O estabelecimento de um dia de repouso para a personalidade (trabalhos externos) mostra-nos a necessidade que temos de parar intermitentemente as atividades personalísticas, para dedicar-nos tão só às do Eu Profundo, na leitura e sobretudo na meditação sobre textos de Mestres. Nada de transformar esse descanso da personalidade em outras atividades personalísticas de culto externo e ritualístico: temos que alimentar o Espírito. E por isso os judeus nas sinagogas (e Jesus o exemplifica) limitavam-se a ler e comentar os livros revelados (mediúnicos).
O texto de Isaías foi escolhido: suas palavras revelam a doutrina de Jesus, já preconizada por Isaías, um dos maiores profetas (médiuns) que apareceu na Terra.
Começa esclarecendo que "um espírito (em grego sem artigo) do Senhor está sobre ele", ou seja, declarando aberta e taxativamente que se encontrava mediunizado, recebendo um "espírito", que é bom e elevado ("do Senhor"). Esse "espírito o ungiu", ou seja, o cristificou, para que ele pudesse realizar sua missão. Observemos que o médium (profeta) não age por si: é intermediário. Não alcançou por si mesmo a cristificação (pois nesse caso seria "mestre", e não medianeiro). Daí a necessidade de que venha "sobre ele", envolvendo-o, um "espírito do Senhor", para ungi-lo, com a finalidade de sustentá-lo para boa execução dos trabalhos espirituais. Na falta de mestres encarnados na Terra, os "espíritos do Senhor" servem-se de instrumentos aptos a substituí-los. E a prova é que, por vezes, quando o "espírito do Senhor" se retira, os intermediários fraquejam.
E a tarefa era anunciar "as boas notícias" ou "evangelho" aos mendigos.
Não aos mendigos materiais, de moedas ou de pão, mas aos "mendigos do espírito", àqueles que sentem fome e sede de espírito e o mendigam ao Pai. Nesse mesmo sentido Jesus proferiu a bem aventurança: "felizes os mendigos do espírito (ptôchoi tôi pneúmati) ou seja, os que mendigam com lágrimas o dom do espírito. A esses sequiosos de espiritualizar-se, serão dadas as "boas notícias".
Então o profeta anuncia que vem proclamar a "libertação dos que estão cativos" na matéria, a restauração da vista espiritual aos que estão cegos, sem ver a verdade; mais ainda, para por em liberdade os oprimidos pela carne, pois doravante terão a faculdade de, mergulhando na Consciência Cósmica,
não mais sentirem o peso da matéria que lhes oprime a mente e o espírito, conforme dizia "o sábio" no Livro da Sabedoria (9:15) "o corpo que se corrompe (que se coagula na matéria) pesa sobre a alma, e esta habitação terrestre abate o espírito que pensa muitas coisas".
Além disso, vem proclamar o ano (isto é, a época) aceitável ao Senhor, pois Ele só espera a preparação do homem para aceitá-lo e nele manifestar-se.
Jesus, a seguir, revela que chegou o momento de cumprir-se a Escritura. A individualidade é que sabe e pode declarar ao homem que chegou o momento de realizar o Encontro Sublime.
O evangelista, sem reproduzir as palavras proferidas por Jesus, declara que todos ficaram encantados com as palavras de amor que procediam de Sua boca, tal como o ficam todos aqueles que tem a felicidade de ouvir as misteriosas palavras silenciosas e consoladoras que o Cristo Interno profere no mais recôndito do coração humano, e que chegam em ondas benéficas ao cérebro inebriando de gozo o intelecto da personalidade.
31
Neste episódio consideramos não mais um discipulado, ou seja, a aceitação, por parte da personalidade, das doutrinas da individualidade; mas sim a renúncia à própria personalidade, para ir em busca da individualidade. E isso é feito com a renúncia total de tudo: pais, haveres e profissão.
A um simples chamado, já preparados, eles obedecem imediatamente, sem nada perguntar, sem qualquer preocupação: é a adesão integral.
Daí por diante atrairão a si não mais peixes (corpos materiais) capturados com redes, aprisionados à violência e dominados com despotismo tirânico; mas antes criaturas humanas, atraídas por amor de modo a se chegarem espontaneamente e a permanecerem com a liberdade individual.
Aprendemos, ainda, que nem todos são chamados: Zebedeu continuou em seu labor material, porque sua evolução lhe não permitia aderir à individualidade. Permaneceu, pois, com "os empregados" (veículos inferiores) a cuidar das coisas físicas.
O grupo de cinco partiu das margens do lago e penetrou a "cidade do Consolador" (Cafarnaum), prontos todos a iniciar a tarefa de levar conforto aos que sofriam, de enxugar as lágrimas dos que choravam, de reavivar a luz dos que estavam nas trevas, de abrir os ouvidos dos que nada percebiam espiritualmente, de servir de muletas aos que coxeavam no caminho do progresso, de limpar os densos fluídos dos leprosos morais: ministério de Consolação e magistério de espírito, calor para os corações e luz para as mentes.
31-37
Jesus, que representa a individualidade, ensina-nos com seu exemplo que mesmo aqueles que já não necessitam dos "trilhos" de uma religião, nada perdem em sujeitar-se às tradições de seu povo; antes, devem aproveitar as situações que se apresentam para elucidar a todos as grandes verdades profundas do Espírito. Deve, portanto, frequentar o círculo religioso a que se acha ligado, seja ele qual for. Mostra-nos que, nesses ambientes, deve o iluminado agir com força e autoridade, mas sobretudo com amor, atendendo aos necessitados, servindo a sua necessidade de evolução. Não obstante, deve evitar que qualquer indiscrição queira revelá-lo como superior aos outros; então, imporá silêncio, todas as vezes que um desencarnado tente revelar quem ele é. Nenhuma dúvida, porém, quanto à ação que lhe
seja possível, em benefício de qualquer necessitado espiritual.
Outra interpretação do texto revela-nos que nossa individualidade deve agir com autoridade cada vez que descobre que nossa personalidade está dominada por “espíritos atrasados” de nossos vícios milenares:
egoísmo, ambição, ódios, etc. Quando nossa iluminação perceber que nosso "espírito personalístico" é dominado por qualquer vício, deve imediatamente ordenar seu aniquilamento, embora nosso “espírito atrasado" se contorça, grite e nos lance por terra, sofrendo ao destacar-se do vício.
Sem essa força moral do Espírito, jamais poderia o “espírito" progredir: permaneceria séculos (como tem permanecido) preso às ilusões demolidoras de nossa ascensão espiritual, aos apegos desordenados às coisas e prazeres materiais transitórios. Lição oportuna e necessária para nossa evolução.
38-39
Pensam alguns que a criatura que atingiu a vida permanente na individualidade não deve mais atender ao círculo familiar, mas apenas aos estranhos. Jesus ensina-nos que isso constitui um erro. Os familiares merecem tanto nossa atenção quanto os estranhos, porque nos são mais achegados; e essa aproximação mostra-nos que eles precisam de nós ainda mais que os outros. Portanto, os parentes não devem ser menosprezados, mas atendidos com solicitude. Se bem que devamos ter desapego da família, jamais devemos abandoná-la. O mesmo comportamento deve ser mantido com os familiares de amigos e condiscípulos.
40-41
Mais uma lição de SERVIÇO, que jamais deve ser negado pela individualidade: é através da libertação das personalidades ainda presas ao resgate das dívidas do passado, que as criaturas poderão um dia compreender o caminho que se lhes abre diante. Só uma pessoa, que pode superar seus problemas, consegue atingir a visão da estrada a percorrer.
Ensina-nos, também, que mesmo o Espírito liberto, e a viver na individualidade, deve cuidar de seus veículos físicos, procurando curar-se de suas doenças, libertando-os de seus apegos e obsessões pelas coisas materiais. Pelo fato de havermos passado a um degrau superior, nem por isso devemos descuidar, e muito menos maltratar, os veículos inferiores que nos ajudam na caminhada: o motorista deve cuidar bem do seu automóvel, senão poderá este deixá-lo no meio da estrada.
Evitemos, porém, intransigentemente que nos teçam elogios, ainda que esses elogios digam a verdade.
Não basta gabar-se: nem mesmo que os outros o façam deve ser permitido por nós. Por mais elevados que estejamos, seremos os primeiros a reconhecer que muito nos falta a percorrer: a humildade REAL é, como definiu uma grande amiga nossa, "o conhecimento de nossa participação na Vida", portanto a simplicidade da aceitação daquilo que se nos apresenta, e não as palavras e impressões que possam provir de outros a nosso respeito.
42-43
Demonstra-nos Jesus, com seu exemplo, que por mais elevado que seja ou esteja o Espírito, não pode prescindir da união com Deus em isolamento, numa prece que o fortaleça. Muitos acreditam que o trabalho, sobretudo espiritual, é uma oração. Sem dúvida que é. Mas não basta. É indispensável oração isolada, do Espírito que se une a Deus em seu coração. E para isso, é indispensável a solidão, o afastamento do bulício do mundo, nem que seja, por alguns minutos ao dia, ou à noite.
Todas as criaturas são enviadas à Terra para uma tarefa. e seu progresso consistirá em cumpri-lo à risca. Não é portanto justo que, para atender a quem nos chama, por mais sofredor que seja. tenhamos que desviar o rumo de nossa rota: antes de tudo e acima de tudo, o cumprimento de Vontade divina a nosso respeito. Quando podemos, atendemos com todo interesse aos que necessitam de nós. Mas quando isso nos desviasse do caminho, sigamos nosso roteiro, porque é mais importante do que uma "caridade" mal interpretada. Não temos direito de falsear nossos deveres espirituais, e o primordial dever é obedecer à tarefa que nos foi imposta. Jamais esqueçamos que a LEI não comete injustiças: se alguém sofre, é resultado de seus próprios atos no passado e se, no momento, não podemos atender porque nossa tarefa nos desvia do caminho deles, isso significa que a hora de eles serem aliviados eu libertados ainda não soou.
Também nos ensina este trecho, que jamais deve o Espírito deixar de fazer sua oração de união com Deus, embora os necessitados (nossos veículos inferiores) nos chamem para distrair-nos dessa necessidade vital. O caminho para Deus, por si só, os ajudará. Precisamos erguer-nos a outros planos: saibamos não dar ouvidos aos apelos, sobretudo aos desordenados, de nossos veículos (corpo, sensações, emoções, intelecto). Só assim progrediremos para nossa união com Deus.